O cafeeiro é resiliente aos estresses climáticos?
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Recentemente, tem havido relatos de uma forte queda de chumbinhos. O que preocupa os técnicos e cafeicultores é que esse fenômeno está ocorrendo em lavouras onde as adubações e o controle preventivo de doenças estão rigorosamente em dia. Apesar disso, os frutos mais jovens apresentam lesões parciais que com o tempo coalescem, tornando-os pretos e mumificados. A maioria cai, enquanto alguns permanecem nessa condição atados aos ramos, induzindo-os a pensar que se tratava de antracnose ou phoma. Logo essas hipóteses foram descartadas, uma vez que em laboratório essas doenças não foram confirmadas, pois trata-se de uma anormalidade fisiológica.
Foto: Lavouras de café na região de Paraguaçu e Muzambinho, MG, onde os fenômenos que geraram esse artigo foram observados/relatados.
Observações “in loco” mostram que essas lavouras estão enfolhadas, vigorosas, com excelente aspecto fitossanitário/nutricional, lançando novas folhas e com altíssima expectativa de colheita, o que descarta a hipótese de uma baixa disponibilidade de reservas (carboidratos). O fato que mais chamou atenção foi que, em um mesmo ramo ou em uma mesma roseta, havia frutos de diferentes estádios de desenvolvimento (indo de chumbinhos a chumbões e frutos em início de granação) ao passo que no chão ou mumificados na planta, curiosamente, só havia frutos jovens, produtos das últimas floradas. Do ponto de vista fisiológico, esse fenômeno decorre da competição entre frutos em diferentes estádios de desenvolvimento agravado pela competição entre os novos lançamentos foliares e frutos jovens.
Já foi amplamente divulgado que a fotossíntese do cafeeiro é baixa e que a quantidade de carboidratos produzida é incompatível com elevadas produções, uma vez que os frutos nos estádios chumbinhos até a granação consomem quantidades de energia e carbonos muito acima daquilo que o cafeeiro consegue produzir. A consequência desse desbalanço entre fonte (folha) e dreno (fruto) é a queda “natural” dos frutos.
No presente caso, em que as lavouras passaram por diversas floradas, o cafeeiro parece que desenvolveu o sistema denominado “dominância primógena”, comum às espécies frutíferas, onde os frutos mais desenvolvidos (aqueles originários das primeiras floradas) dominam o fluxo de fotoassimilados, nutrientes e água em detrimento dos frutos mais jovens (oriundos das últimas floradas), induzindo sua queda. Essa competição entre os frutos em desenvolvimento é agravada pelas altas temperaturas, quando a dominância e a demanda por assimilados pelos frutos mais precoces e lançamento de novas folhas são muito altas.
O sinal hormonal responsável pela dominância dos frutos mais desenvolvidos sobre os menos desenvolvidos e que culmina com a queda desses últimos é mediado pelo ácido abscísico (produzido nas folhas), que dispara a produção de etileno no pedicelo (haste que une a flor ou fruto ao ramo), criando uma camada de abscisão na região de inserção do pedicelo ao ramo. Esse tecido de abscisão interrompe gradativamente a passagem de carboidratos, água e nutrientes minerais do ramo para os chumbinhos, uma vez que eles possuem uma vascularização ainda rudimentar ou pouco desenvolvida, causando sua senescência, morte e queda. Esses tecidos mortos aliados a altas umidades podem favorecem o desenvolvimento de patógenos, ocasionando doenças secundárias como as citadas anteriormente. Como contra ponto, a auxina tem efeito antagônico ao etileno, diminuído seus efeitos na queda de frutos.
A presença de estrelinhas nas lavouras de café é um aviso, uma resposta das plantas ao clima adverso de que algo está fugindo da normalidade
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