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22/12/2021
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Guy Carvalho
Safra de 2022

Estamos encerrando o ano de 2021, que ficará marcado por adversidades climáticas no café. Foi um ano de extremos, tanto na questão das temperaturas quanto na questão hídrica, o que irá impactar negativamente na próxima safra.

Para retratar melhor o cenário, primeiramente preciso falar sobre a fisiologia do cafeeiro. Ao longo do ano, as plantas realizam duas fases fenológicas ao mesmo tempo: a produção e a vegetação para ano seguinte, ou seja, ela produz enquanto cresce. Para ultrapassar as dificuldades, o cafeeiro aprendeu a penalizar folhas, ramos, gemas, flores, chumbinhos e frutos para se manter vivo, pois ele sabe que se não morrer haverá outra primavera.

Para falar da safra de 2022, precisamos recordar como foi o período de setembro de 2020 até hoje, dezembro de 2021. As chuvas atrasaram e, por consequência, houve atraso na florada e no início do desenvolvimento. Enquanto se desenvolvia a safra que foi colhida em 2021, ocorria também o crescimento para a safra de 2022. Durante o período das chuvas, no final de 2020 e início de 2021, tivemos irregularidades, estiagens e altas temperaturas, o que prejudicou o desenvolvimento das plantas, fazendo com que elas crescessem menos. O período de seca se iniciou muito cedo, no final de março, e seguiu até setembro. Já as temperaturas foram marcantes, com geadas em julho e extremamente elevadas em setembro, antes do retorno das chuvas. Outubro começou muito bem, porém em muitas regiões choveu muito mais que o necessário (a Fazenda registrou 450 mm) e o cafeeiro não gosta de excessos hídricos. Além disso, esse mês apresentou uma grande amplitude térmica, com dias muito quentes e noite muito frias, o que também não é favorável ao cafeeiro.

Resumindo: ocorreu uma série de eventos negativos e, como resposta, as plantas penalizaram parte da produção de 2022 em diferentes níveis de danos variando por microrregião, pacote tecnológico e até variedade. 

Sobre a quantificação das perdas, nossa cafeicultura é de uma diversidade incrível (sistemas de plantio, irrigação, pacote tecnológico, manejo de fertilidade) e temos que ter muita responsabilidade para falar. Acredito que somente depois da fase de enchimento dos frutos poderemos avaliar e estimar de forma responsável e assertiva a safra a ser colhida. O suspense ainda vai continuar pelo menos até janeiro ou fevereiro. 

O mais importante nesse momento é não desanimar e cuidar bem das lavouras, que quando bem tratadas respondem e recompensam na safra seguinte. Usar novas tecnologias e seguir novos conceitos oriundos de trabalhos científicos implantados e conduzidos corretamente é uma boa opção, pois a ciência é quem pode nos ajudar. Vejo muitos produtores querendo economizar em fertilizante por exemplo, e na minha opinião isso é a última coisa que eles devem fazer. A fertilidade deve ser construída, principalmente em épocas de preços remuneradores. Querer economizar R$500,00 – R$600/há com café de R$1.500,00 (15 - 20 kg/há) não me parece muito interessante diante das perdas que poderão acarretar essa redução. Outra coisa importante que o cafeicultor deve observar é o poder de troca de sua moeda, que é o café: quantas sacas para adquirir 1 T de fertilizante?

Acredito no seguinte: um bom plano nutricional não deve reduzir aporte de nutrientes em lavouras jovens baseado apenas na extração. Se o cafeeiro não precisar de muito para a produção, ele irá compensar no desenvolvimento para ano seguinte. O mais importante é que o cafeicultor busque orientação técnica com um especialista, que deve estar bem atualizado. 

Deixo aqui dicas práticas de novas tecnologias para serem utilizadas:

- Uso de podas, que mantém a planta sempre jovem; 

- Uso de irrigação, com exceção do período de repouso, que ocorre entre julho e agosto. O cafeeiro precisa de água durante as demais fases fenológicas e, independente da região de localização da lavoura, a irrigação garante que não irá faltar água e que o potencial produtivo será alcançado;

- Uso de cultura de cobertura, que traz diversos benefícios tanto para o solo quanto para o cafeeiro. Além de adicionar, reciclar e armazenar nutrientes, protege contra erosão, reduz a temperatura e retém mais água no perfil do solo. O cafeicultor pode optar pela braquiária ou um consórcio de várias plantas, os chamados mix de plantas, que trazem maior biodiversidade e equilíbrio ambiental; 

- Utilização de adubação com fósforo, um nutriente fundamental para desenvolvimento e produção do cafeeiro, que aumenta enraizamento, vigor e traz maior resistência à adversidades climáticas e doenças, sendo indispensável para plantas jovens que devem produzir e crescer. Pode ser fornecido de forma mineral, composto orgânico ou organomineral. Minha experiência diz que o cafeicultor que já tem um bom pacote tecnológico deve rever o aporte do fósforo para deixar suas plantas mais fortes e vigorosas para enfrentar o clima cada vez mais incerto. 


Este conteúdo foi baseado na entrevista concedida ao Notícias Agrícolas por Guy Carvalho em 08/12/2021.

Para ter acesso a entrevista, acesse o link - Mesmo após retorno das chuvas, produtor de café ainda tem dificuldades, mas precisa manter tratos culturais e pensar em 2023 e 2024, diz Guy Carvalho

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