Neste mês de fevereiro, com apoio da
Stoller, tive a oportunidade de acompanhar o Prof. José Donizete, da UFLA, para
conversarmos sobre um tema bastante oportuno para os cafeicultores e técnicos:
as altas temperaturas e como elas afetam a produção cafeeira, o que resultou em
um conteúdo informativo e dois vídeos para o Canal Papo de Cafeicultor (ver
abaixo os links).
Nosso intuito foi despertar a atenção para o problema de forma técnica e responsável, sem alarmismo e sem a pretensão de deter a palavra final. Em resposta, recebemos dos cafeicultores diversos relatos e imagens de lavouras do Sul de Minas e de Mogiana de SP mostrando queimas em folhas e grãos, queda precoce de frutos etc, como podem ser observados nas imagens abaixo:
Imagens
envidas por cafeicultores mostrando os problemas causados no cafeeiro pelas
altas temperaturas
Aqueles que nos acompanham sabem da
nossa responsabilidade e compromisso com os nossos seguidores, e comentando com
Prof. José Donizete sobre o retorno que tivemos fomos presentados com um pouco
mais do seu conhecimento. Segue o texto completo enviado pelo Professor:
“Prezado
Guy,
Sem dúvida alguma, as fotos falam por si e mostram
os vários efeitos da escaldadura no café e tenho pouco a acrescentar ao que já
foi dito como desfolha, desfrutificação, coração negro, frutos chochos, queima
de folha reduzindo a área fotossintetizante e frutos pequenos. Todas essas
anormalidades fisiológicas decorrentes da perversa interação entre calor e seca
irão, em menor ou maior grau, afetar a produção de café, e os efeitos negativos
serão proporcionais ao grau de escaldadura que varia de lavoura para
lavoura.
Após visitar várias
lavouras no Sul de Minas Gerais, observei na mesma propriedade talhões onde não
existem injurias destes tipos, portanto com nenhuma perda na produção, enquanto
em outros ela está bastante pronunciada, sugerindo perdas de até 40% na
produção, somando todas as desordens fisiológicas listadas acima
mesmo em lavouras irrigadas. Portanto, uma vez instalados esses sintomas, nada
há de se fazer a não ser lamentar as perdas.
Por outro lado,
sabendo que os próximos cinco anos serão gradativamente mais quentes, temos que
antecipar ações preventivas no sentido de amenizar os problemas futuros que
certamente serão fontes de estresses como os que estamos observamos neste
momento.
Especial atenção
deve ser dada para o potássio, magnésio, cálcio e fósforo. Ações que
privilegiam o crescimento radicular, como fosfatagem em
profundidade, calagem e gessagem, nunca devem ser esquecidas, uma vez que as
raízes em profundidade exploram camadas subsuperficiais de solos onde
ainda existe, apesar da seca, abundante quantidade de água. Na atualidade,
lavouras onde o sistema radicular se concentra nos primeiros 40 cm de
profundidade, como a que tínhamos até duas décadas atrás, está fadada a ter, em
maior proporção, problemas com escaldadura. Nas lavouras modernas onde são
aplicadas tecnologias de ponta, o sistema radicular normalmente aprofunda-se até
a camada de um a dois metros. Se a morfologia radicular de sua lavoura não se
encaixa neste modelo algo está errado e precisa ser corrigido.
Cultivo de
braquiária nas entre linhas, além de reduzir as perdas por evaporação de água,
ajudam na parte física do solo, uma vez que as raízes profundas dessa gramínea
quando morrem deixam poros no solo, melhorando assim a aeração do mesmo e
evitando a malfadada respiração anaeróbica das raízes do cafeeiro, que
gera produtos tóxicos e estresse oxidativo que levam, invariavelmente, a
morte de suas próprias radicelas.
De nada adiantam
essas ações se não atentarmos para o enfolhamento das plantas. Cafeeiros mais
enfolhados produzem, no sentido horizontal, de três a quatro camadas de
folhas, de modo que as camadas mais externas, ao sobrepor as mais
internas, criam gradientes de temperatura e luminosidade fazendo com
que a escaldadura se concentre na camada mais exterior da copa, auto
protegendo do calor cerca de 80% das folhas. Sem falar nos benefícios diretos
na fotossíntese disponibilizando mais energia para as plantas, que é vital
para o enfrentamento desse período adverso. Controle fitossanitário e
pulverização com produtos hormonais tem que estar na lista de
prioridades.
Nunca esquecer que
o método mais eficaz de recomposição da parte aérea do cafeeiro, quando
todos ou outros falham, é a poda. No entanto é importante destacar que existem
podas que recuperam a parte superior da copa enquanto outros a saia. A adoção
do sistema correto de poda pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso
para se ter cafeeiros com copa mais fechada no verão, em cuja época o cafeeiro
já deve estar enfolhado e não em processo de enfolhamento. Esse assunto deverá
ser tratado mais oportunamente em outra ocasião.
Enfim meu caro Guy,
estas são minhas considerações. Use-as sem parcimônia.
Abraço,
Prof. José Donizete Alves”
Essas considerações
nos ajudam na preparação para enfrentar o problema de aquecimento que temos
vivido. Agradeço a todos e continuem interagindo com o nosso blog.
Veja o conteúdo já postado em nosso blog sobre o tema e os vídeos do Canal Papo de Cafeicultor:
Altas temperaturas no início do ano e os prejuízos ao cafeeiro - link